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A Palavra Perdida

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A Palavra Perdida

A lenda da Palavra Perdida, ou seja, de uma chave da Criação pela qual toda a realidade teria sido posta em movimento, remonta a milhares de anos. Parte dessa lenda é alegórica e parte é devida a uma concepção primitiva do poder da palavra falada, com uma energia motivadora dos seres humanos de modo que um poder semelhante é atribuído à causa primeira, ou Divindade.

A primeira referência a uma causa teleológica ou mental da Criação e à sua relação para com a Palavra Perdida remonta ao período menfítico do Egito, mais ou menos no ano 4000 a.C. O deus menfítico era Ptah. Encabeçava ele um panteão de deuses menores. A princípio, os sacerdotes das Escolas de Mistérios de Mênfis proclamaram que Ptah era o deus protetor dos artesãos e artistas do Egito. Séculos depois, desenvolveram uma concepção metafísica mais profunda quanto a ele. Tornaram-no o artífice, o criador do universo. Em suas doutrinas, os sacerdotes declararam então que Ptah criara o universo por meio do pensamento. Mais explicitamente, o pensamento, as ideias de Ptah, foram transformadas numa palavra por ele pronunciada, de modo que, através dessa palavra, seu pensamento foi concretizado, ou seja, tornou-se realidade.

Segue-se uma citação de uma antiga inscrição feita pelos sacerdotes de Ptah:

“Assim foi que o coração e a língua adquiriram poder sobre todo membro, ensinando que ele (Ptah) estava (sob a forma do coração) no coração e (sob a forma da língua) na boca de todos os deuses, os homens, os gados, os répteis, todos os seres vivos, ao mesmo tempo em que ele (Ptah) pensa e ordena tudo aquilo que deseja. A boca de Ptah, que pronunciou os nomes de todas as coisas…”

Informam os egiptólogos que os egípcios antigos usavam a palavra coração no sentido de mente ou inteligência. Por outro lado, a referência à língua diz respeito à palavra falada – à imperiosa palavra pela qual todos os pensamentos foram concretizados, tornando-se realidade.

Podemos presumir que, em algum ponto desses antigos mistérios, havia sílabas, mantras e sons que teriam poderes universais especiais para a criação de coisas terrenas.

Naturalmente, todos conhecemos a declaração da Bíblia, no Capítulo I de São João: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus”. Terá sido esta declaração do Novo Testamento um eco das doutrinas dos sacerdotes de Ptah de séculos atrás?

Agora, passamos a considerar a Cabala, a doutrina metafísica dos judeus. O livro Sepher Yezirah literalmente significa Livro da Criação, ou “cosmogonia”. Não se sabe quando o original desse livro foi escrito. Eruditos hebreus têm apontado diferentes períodos para sua origem. A época exata está perdida nas sombras da Antiguidade. Contudo, uma opinião mais ou menos generalizada sustenta que o livro surgiu aproximadamente no segundo ou terceiro século da era cristã.

Ensina ele que a causa primeira, “eterna e onisciente, todo-poderosa, é a origem, o centro de todo o universo”. Todo o Ser emanou dessa primeira causa. Declara esse livro, ainda, que pensamento, palavra falada e ação constituem uma unidade inseparável no Ser Divino. O idioma hebraico, com seus caracteres, no mais das vezes corresponde às coisas que designa; assim, “pensamentos sagrados, idioma hebraico e sua conversão à escrita formam uma unidade que produz um efeito criativo”.

Mais simplesmente, as letras desse idioma, quer escritas ou pronunciadas, são elementos de uma energia potencial que produz aquilo que elas representam. Conforme se pensava, não eram símbolos, como em outros idiomas, e sim unidades constituintes de uma energia cósmica ou divina.

É frequentemente observado por teólogos judeus e cristãos que o sistema Gnóstico Marcionita, bem como o dos Clementinos do segundo século, contém muitos paralelos e pontos de semelhança com o livro Sepher Yezirah.

Citemos alguns exemplos do Yezirah. No Capítulo I, Seção 8, lê-se o seguinte:

“O espírito do Deus vivente, louvado e glorificado pelo nome Daquele que vive por toda a eternidade. A pronúncia da palavra de poder criador, o espírito e a palavra constituem o que chamamos de Espírito Santo”. E, no Capítulo II, Seção 6: “Do nada criou Ele uma realidade, fez surgirem as coisas inexistentes e energicamente esculpiu, por assim dizer, do ar intangível, colossais pilares… Previamente concebeu e pela fala criou toda criatura e toda palavra, através de um só nome. Como exemplo podem servir as vinte e duas substâncias elementares produzidas pela substância original de Aleph”.

Aos mantras hindus, que consistem de combinações de entoações vocálicas, são atribuídos poderes específicos para afetar as emoções humanas e estimular os centros psíquicos, e até certo valor terapêutico. Naturalmente, como rosacruzes, sabemos que as vibrações da voz humana, em determinadas combinações de vogais, podem induzir, no homem, condições psíquicas de natureza estimulante ou calmante.

Na maioria das culturas primitivas os deuses eram tidos como antropomórficos. Portanto, eram concebidos como dotados de qualidades humanas. Se os deuses criavam, deviam usar funções e atributos semelhantes aos do homem. Em outras palavras, deveriam eles pensar e planejar; porém, como haveriam de concretizar suas ideias? Qual seria o estímulo – a motivação por trás da ideia, capaz de torná-la real? Em termos simples, como iriam os pensamentos transformar-se em coisas? O comando vocal tem poder; a voz pode ser ouvida, sentida e pode levar as pessoas a agir e a produzir coisas materiais em conformidade com a ideia por trás da palavra pronunciada. Por conseguinte, era fácil presumir que os deuses, ao criar, faziam o mesmo; que sua voz era o meio para converter uma ideia numa coisa concreta.

Nas tradições das várias culturas, acreditava-se num fiat, numa Palavra dotada de poder vibratório suficiente para que tivesse originalmente produzido o Cosmos. Sustentava-se, ainda, que essa palavra fora conhecida da humanidade, mas que, de algum modo, com as vicissitudes dos tempos e a degradação da espécie humana, tornara-se perdida.

Misticamente, de fato existem palavras que quando pronunciadas são muito benéficas ao serem ouvidas como sons. O homem primitivo aprendeu o valor desses sons em suas exclamações e seus gritos de dor, prazer, surpresa, ódio etc. Nas antigas Escolas de Mistérios, certas entoações de mantras eram usadas para preparar o iniciado para alcançar o adequado estado de consciência e a devida sensibilidade à ocasião.

Em nosso mundo moderno, podemos manter o parecer de que uma única palavra pronunciada não criou toda a realidade do nada. Entretanto, sustentamos o conceito cosmológico de que a realidade básica, ou primária, é uma energia vibratória. É um espectro, ou escala de energia, de que provém a manifestação de todas as coisas. Nossas interpretações das sensações e da percepção que temos dessa energia vibratória não são arquétipos exatos da mesma, isto é, não sentimos diretamente a realidade absoluta, mas somente os efeitos que ela exerce em nossa consciência.

* Extraído do Fórum Rosacruz (outubro 1973).

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