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Fantasia prática – Verdadeira chave das portas da alma

Por June Schaa, SRC

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Fantasia prática – Verdadeira chave das portas da alma

Havia, em certa época, grande respeito pelos “contadores de histórias” natos. Mas, em nosso elogiável e prático progresso visando o domínio do nosso ambiente mun­dano, creditamos aos “contadores de histórias” um respeito intelectual não muito maior do que aquele que creditamos ao piloto que imprudentemente permite que seu avião entre em parafuso. Apesar disso, será que pode haver um lugar legítimo e uma utilidade prática em nossa vida para fantasias desenvolvidas de ocasionais tessituras de pensamen­tos autônomos? Como uma teia de aranha que atrai gotas de orvalho coloridas, a fantasia tradicional pode formar uma teia capaz de captar um mundo interior em que duendes e fadas – a “gente miúda” – podem viver uma existência significativa através de nós.

Fantasia é um termo mais respeitoso para “sonhar acordado”, embora todos saibamos o quanto improdutivos podem ser esses sonhos e devaneios. Aprendemos também, desde crianças, que só se entregam a este passatempo aparentemente inútil pessoas de mentalidade infantil ou os menos afortunados de intelecto inferior.

É verdade que, em sua maior parte, os seres humanos tendem a ser mentalmente preguiçosos. É bem mais fácil deixarmos para o dia seguinte o que podemos fazer hoje. Por isso é preciso que alguém nos lembre de dirigirmos nossos pensamentos positiva­mente, para que os concretizemos criativamente, pois, com efeito, tornamo-nos aquilo que pensamos.

Contudo, na luta que travamos contra as nossas características naturais de indolência e protelação, devemos cuidar para que não nos descartemos de nossa “criança fantasiosa” com um nada prático banho de água fria. Devemos apreciar criteriosamente nossa capacidade natural de devaneio e fantasia, permitindo-lhe enriquecer nossa vida de labuta diária que, caso contrário, torna-se insípida. Vista sob este ângulo, a fantasia pode transformar-se em imaginação, atributo mental que sempre merece nosso respeito. Não obstante, devemos admitir que mesmo usando construtivamente, a fantasia é de fato uma estranha esposa casada com o intelecto objetivo, mas este casamento alquímico pode ocorrer por uma porta de fantasia que dá acesso à terra do visível bem e mal dos contos de fadas.

Na maior parte da primeira metade do século XX, época em que a psicanálise tornou-se popular, o interesse por contos de fadas era considerado um estágio mental que o homem intelectualmente culto havia deixado para trás juntamente com a Era Vitoriana. Muitos pais de então concluíram que os contos de fadas exerciam influência desnecessária e indesa­jável sobre seus filhos. Esses pais, preocupa­dos, não desejavam atemorizar seus pequeni­nos com contos que encerravam horrores medonhos, nem deseja­vam alimentar as já naturais capacidades de seus filhos para criar fantasias e “inventar histórias” que não pudessem ser provadas pela realidade diária. Implícita nessas admo-­estações havia a sutil insinuação de que “contar histórias”, como as “mentirinhas inocentes”, não era próprio de crianças “boazinhas”. E alguns adultos, indevida­mente influenciados pelas primitivas descobertas da Psicologia, pensaram que essas histórias de regiões imaginárias apenas acentuavam a já selvagem e bárbara natureza dos seus filhos.

Devido a que as histórias de fadas falem a própria linguagem simbólica da criança, despertam em sua mente infantil a confiança que lhe permite alcançar objetivos de um ainda desconhecido mundo do gigante adulto. Como adultos talvez pensemos que a fantasia é coisa infantil e ingênua. Mas será também inútil e não prática? A criança indefesa precisa da esperança reconfortante de que ela pode, e que vai de fato, conquistar o desconhecido mundo da realidade do adulto. Ela precisa que lhe ensinem a alcançar isto numa linguagem com que pode se identificar e compreender. Caso contrário, ela pode desejar permanecer num estágio primitivo, resistindo às forças que procuram fazê-la adaptar-se às responsa­bilidades que a civilização moderna espera de seus cidadãos adultos.

Ornitólogos têm evidências de que pássaros criados em total isolamento, sem nenhum contato com pássaros adultos, passam a assobiar um tipo de melodia muito primitiva da sua espécie. Do mesmo modo, crianças que tenham sido criadas sem o conhecimento reconfortante das histórias de fadas viverão um conto de fadas primitivo pessoal. Por conseguinte, como o pássaro isolado, esta criança dificilmente será capaz de alcan­çar na idade adulta o refinamento que alcança a pessoa que na infância teve contato com os exem­plos contidos nos contos de fadas. Essas maravilhosas histórias infantis nos ensinam a linguagem simbólica de nossa herança interior. Precisamos, a cada nova vida, reno­var nosso contato com essas histórias para que reafirmemos e cumpramos criativamente nossa herança evolutiva como adultos.
Do mesmo modo que os contos de fadas ajudam a criança a se ajustar a um mundo terrível e desconhecido da realidade do adulto, a religio-mitologia pode auxiliar o adulto amadurecido a se ajustar igualmente a uma desconhecida existência de além transição.

O Livro Egípcio dos Mortos aponta um dedo de esperança para a vida após a morte. As imagens simbólicas contidas nesses Mistérios de Osíris esboçam o desmembramento do deus morto e da coleta das diferentes partes do seu corpo pela deusa Isis que, como irmã, esposa e mãe, ocasiona a eterna renovação da vida através de Hórus, filho seu e de Osíris.

Com o último período de nossa vida terrena advém o tempo em que devemos começar a escrever o nosso Mahabharata individual. Em outras palavras, podemos começar pela emulação do venerado deus hindu Ganesha*1 . Ao tomarmos indiviso interesse no registro acurado dos acontecimentos interiores e exteriores da nossa vida individual, dissecando então suas diferentes partes, podemos reuni-los todos em nossa maturidade, vivenciando assim o significado pleno que reside além da diversidade de nosso curto período de vida. Mas, como a criança que distingue a fantasia da realidade que irá viver no estágio seguinte de sua vida, o adulto pode fazer uso prático de uma verdadeira “Chave mitológica” que o ajudará a abrir as portas de um mundo transcendental, liberando a silente melodia que é a Alma.

Entretanto, dos anos setenta para cá, eminentes autoridades estão apresentando alguns fatos contrastantes sobre a relação que existe entre os contos de fadas e a adaptação da criança em seu ambiente familiar e mundano. Assim é que o conto de fadas está assumindo um papel importante e adequado no ensino infantil. Há evidências que a criança automaticamente elaborará fantasias primitivas sobre algum objeto inanimado do seu ambiente se não leu ou ouviu os clássicos contos de fadas.

Os adultos que em criança foram privados dos contos de fadas tradicionais tendem a ser mais inseguros. Muitos inclusive, parecem suscetíveis de mais aflições mentais e sociais se não tiveram contato com os contos de fadas na infância. Por outro lado, a criança a quem ensinaram a pôr em ordem o modo caótico de travar contato com as experiências do mundo pela imitação ou aprendizado do natural processo de mudança dos exemplos unidimensionais contidos nas fantasias dos contos de fadas, parece comparativamente menos insegura sobre suas vida interior, tanto na infância quanto na maturidade. Com certa surpresa, crianças assim tornam-se mais motivadas a se adaptarem à vida no mundo da verdadeira maturidade. Isto certa­mente é o reverso do anterior ponto de vista: de que os contos de fadas são nocivos ou, na melhor das hipóteses, inúteis.

Certa dose de contos de fadas ajuda a criança a enfrentar um mundo desconhecido, a realidade do mundo adulto que para ela é muito mais atemorizante do que o mundo de fantasia no qual ela se sente bem mais em casa. Constatou-se também que a criança mentalmente sadia tem muita consciência das diferenças que existem entre a verdade do cotidiano e a fantasia porque “intuitivamente ela compreende que embora os contos de fadas sejam irreais, não são inverídicos” para sua compreensão.

Em muitos contos de fadas o herói ou a heroína é a criança enjeitada, a menor, a mais nova, algumas vezes portando alguma deficiência física – um personagem absolutamente insignificante que, apesar de tudo isto, enfrenta os muitos testes e tribulações até que finalmente alcança seu objetivo tão almejado. Esses contos possibilitam que nós, como crianças mentalmente orfãs, nos identifiquemos com um personagem que também é um patinho feio, ou com uma bela criança deixada aos cuidados de uma madrasta cruel. Mas os contos de fadas também mostram à criança que no fim tudo dá certo se o herói, com quem ela se identifica, perseverar e man­tiver uma atitude de confiança amorosa. Embora muitas vezes fraco, mas tendo bom coração, o herói ou heroína recebe a informação e o auxílio necessários de animais como pássa­ros, cobras e insetos, bem como a de fantásticas criaturas do reino vegetal e mine­ral. Desafios e recompensas estão sempre sendo proporcionados pela gente miúda – magos, feiticeiras, duendes e fadas. Com a ajuda recebida, o herói ou a heroína alcança seu objetivo e retorna para viver feliz para sempre.

Nota: 1. O Mahabharata é um poema épico hindu de quase 100.000 dísticos, no qual está contido o conhecido Bhagavad Gita. A Mitologia hindu atribui a autoria deste poema a Ganesha, deus das Letras de do Aprendizado (N.do T.).

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