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Um caminho

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Por IRÈNE BEUSEKAMP-FABERT, SRC

Há muitos anos que estou nesse mundo. Tinha cinco anos de idade quando fui à aula pela primeira vez. Aprendi, estudei mais e mais e agora sei tanto que já não sei o que sei. E assim como Montaigne, digo: “Que sei eu?”. Os exegetas de Montaigne por muito tempo pensaram que, através desse questionamento retórico, ele procurava exprimir seu ceticismo e suas desilusões. Ele ainda era um rapazinho imberbe e falava latim fluentemente. Mais tarde, estudará filosofia e direito. Viajou muito e ocupou cargos públicos. Contudo, é o fenômeno “ser humano” que absorverá cada vez mais o seu interesse.

Foi assim que ele se recolheu ao seu castelo e se consagrou ao estudo do homem. Como vivia sozinho, tornou-se ele próprio o objeto de suas observações, as quais depositou em seus Ensaios. Era no silêncio que ele encontrava aquilo que para ele era o mais importante: seu Eu interior, ao qual chamava “fundo da loja”. Produziu muitos escritos sobre o homem na forma de ensaios e no entanto jamais soube quem ou o que é o homem: “Que sei eu?”. Apesar dos muitos anos de estudos, o homem permanecia para ele um mistério. Quanto às eventuais experiências espirituais no mais profundo de si mesmo, ele sempre preservou o silêncio.

Se me permitirem, regressarei agora às minhas próprias experiências. De tudo aquilo que aprendi (por vezes eu ficava com a cabeça “recheada”), adquiri um saber consideravelmente extenso, mas aquilo que sei de verdade não vem daquilo que acumulei no meu cérebro, mas do mais profundo de mim mesmo, durante curtos ou longos momentos de silêncio puro – momentos em que tudo em nós se cala e nos quais parece que somos recobertos por um véu etéreo e quando, subitamente, nosso Mestre Interior se manifesta e confirma aquilo que um mestre disse há tanto tempo: “O Reino dos Céus está em vós”. O Mestre, o Mestre Interior, Deus.

Há alguns meses escrevi uma meditação de palavras, expressões e frases que eu lia ou ouvia e que ficaram gravadas em meu coração. Ei-la: O Reino dos Céus está em vós. Adeptos da Senda, permiti-me vos saudar com essa perene afirmação. A ilusão atual do homem é superestimar o intelecto que tanto lhe acresceu e que tornou possível, graças a maravilhas tecnológicas, uma mudança total de suas condições de vida. A humanidade se encontra sob a empresa de um desenvolvimento tecnológico que parece não se deter. Novas descobertas são feitas em todos os domínios. O universo revela seus segredos à ciência e todas as riquezas e recursos de nossa Mãe Terra são usados e esgotados.

O mundo já não está mais em equilíbrio. Ao passo que os países ocidentais, ávidos por Ter (já não se sabe mais conjugar o verbo “Ser”) são cada vez mais levados a adquirir produtos completamente inúteis, a outra parte do mundo sofre com a fome e permanece privada daquilo que há de mais essencial para a vida. Já é mais do que urgente que tomemos consciência da armadilha de nossa evolução intelectual e nos engajemos em novas veredas – veredas que se revelam cada vez mais e que foram indicadas em todos os tempos por sábios de todas as civilizações no âmbito de uma única ciência – a ciência da alma. Não é insueto que sábios conheçam tudo a respeito do menor dos insetos, que nem sequer podem ver a olho nu, e não saibam o porquê e o como de sua própria existência? Ou que geneticistas saibam tudo a respeito das plantas, animais e seres humanos e não se empenhem no mistério de seu próprio ser e nas particularidades de sua pessoa? Ou ainda que o homem atravesse o universo em todos os sentidos, pouse na Lua e, ainda assim, não possa encontrar o caminho que o conduz a si mesmo?

“O Reino dos Céus está em vós”. Adeptos da Senda, permiti-me repetir essa mensagem secular. É a mensagem do sorriso infinito da Esfinge que se eleva calma e serena da areia do Egito; é a mensagem formulada em diferentes termos pelo místico alemão dos séculos XIII e XIV, Mestre Eckhart: “Deus está no centro do homem”. Tomás de Aquino e Jacob Boehme exprimiram a mesma coisa em longos escritos que nem sempre são fáceis de ler e que se baseiam na experiência verdadeira – uma experiência que também é possível para o homem desse novo século. Nossa época é justamente aquela em que os valores divinos ganham em clareza e em que a vida espiritual se torna tão marcante e tão real quanto à vida material. É a época em que o termo “iniciação” reencontra seu significado primordial: um começo, um novo começo. E assim deveria ser, uma vez que toda criatura é uma parte do Espírito original que está na origem de nosso mundo – o Espírito em que habitam o Amor eterno, a Sabedoria infinita e uma Paz indestrutível.

Nas escolas de Mistérios dos países de civilização pré-cristã, a iniciação era considerada como um ato extremamente importante. No fim das cerimônias dos mistérios de Elêusis, na Grécia antiga, as últimas palavras que o iniciado ouvia eram: “Que a Paz esteja em ti”, e então ele retomava seu caminho, tendo a alma apaziguada e o coração em júbilo. A iniciação era para ele apenas um profundo despertar para aquilo que ele era na realidade; era a conquista de sua vida espiritual e aquele que não tivesse esta experiência não era um ser completo. Se esta experiência interior era possível dois mil anos antes de Cristo, também o é dois mil anos depois. Durante esses quatro mil anos a natureza fundamental do homem não mudou, nem tampouco sua busca a si mesmo, assim como acontece com o Adepto na Senda, que aspira ao reencontro com o Divino.

Em sua verdadeira realidade, tal como ele foi e será para sempre, o homem é um ser espiritual, ainda que habite um corpo material. Nossos sentidos, que de alguma forma riem-se de nós, são a razão pela qual confundimos nosso verdadeiro Eu com nosso corpo material. O Divino não nos cerca penas durante a nossa primeira infância, mas em todos os momentos de nossa vida. Nós ainda não o sabemos ou não o sabemos mais. Atrás da pessoa que julgamos ser existe outra pessoa que não vemos: nosso Eu real, que já existia antes que os pensamentos e os desejos se apoderassem de nós. Atrás de nosso corpo de carne e de sangue existe uma consciência brilhante e sublime. Nossa verdadeira vida se desenrola nas profundezas de nosso coração e não tem nenhum espaço na máscara superficial da personalidade que mostramos ao mundo.

Adepto da Senda, és o herdeiro de um tesouro escondido nos recônditos de tua própria natureza. O Reino dos Céus está em ti. Aquele que, recolhido ao seu próprio silêncio, parte em busca de si mesmo, não é um sonhador. Ele faz apenas aquilo que cada qual deve fazer numa determinada fase de sua evolução; o caminho pode ser longo ou curto, mas tudo o que tem a fazer é conservar seus olhos espirituais bem abertos e escutar a voz que fala dentro dele. Um dia, seu grande Eu lhe será revelado e ele estará às margens da Eternidade. Quer a porta de nossa alma se abra por um segundo, um minuto ou uma hora, a revelação será completa. Nem um amargo sofrimento e nem um pesado fardo podem aniquilar esse conhecimento – um conhecimento que não é traduzível por palavras. Aquele que uma vez sentiu seu ser mais interior se dissolver e se fundir com o infinito sabe que isso é inexprimível. É a iluminação do espírito e do coração – o que há de mais milagroso na vida do homem.

Buscai o vosso Eu, encontrai o vosso verdadeiro Eu e conhecereis o sentido da vida e o mistério do universo se desvelará por si mesmo. Pensai nas palavras do Mestre da Galileia: “Procurai e encontrareis. Batei à porta e ela vos será aberta”.

Descobri que vós sois uma parcela de uma Vida infinita que se exprime em Luz e Amor: “Aquele que conhece sua própria natureza conhece o Paraíso”, disse um aluno de Confúcio. Em outras palavras: “O Reino dos Céus está em vós”. […] Que assim seja!

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